domingo, 2 de novembro de 2008

A perseguição de Wes no filme “O Procurado”

Um dos ingredientes que prendem o espectador na poltrona, durante os filmes de ação, são as altas doses de adrenalina e de velocidade. Nesse quesito, “O procurado”(2008) não deixa a desejar. O filme narra a história de Wesley Gibson (James McAvoy), um jovem administrador frustrado, que é perseguido pelo assassino de seu pai. Para reverter a situação e perpetuar os passos do pai, ele é forçado a entrar na comunidade secreta de assassinos, a Fraternidade, para adquirir a habilidade de um bom matador. A atraente Fox, interpretada por Angelina Jolie, e o líder Sloam (Morgam Freeman) são elementos que atuam durante todo o processo vivenciado pelo jovem.


Segundo a lógica de Pierce, o personagem Wes assume uma natureza triádica, que pode ser analisado em si mesmo, na referência ao que ele indica, e nos efeitos de interpretação que ele pode produzir. Neste caso, ele é ícone, pois, sua imagem na tela tem semelhança com o objeto representado, ou seja, com o personagem. Ele é índice, ao denotar suas atitudes por meio de pensamentos e transformá-las em ação. Além disso, o filme indica as semelhanças que ele carrega do pai (características físicas e principalmente de personalidade). Wes também é símbolo, ou seja, a princípio símbolo da mediocridade de um simples trabalhador, que depois se transfigura numa pessoa destemida e forte. O filme “O procurado” em si, é o objeto de um signo, ou seja, da História em Quadrinho Wanted, de Mark Millar e J.G. Jones que originou a obra cinematográfica.
É importante ressaltar que SANTAELLA
(2007, p.13) faz o “exame dos modos de constituição de todo e qualquer fenômeno de produção de significação e de sentido”, que neste caso, tiveram origem nas HQs.

De acordo com os estudos apresentados pelo semioticista Pierce, ainda é possível notar a primeiridade, revelando o simples Wes; a secundidade, ao notar o início das alterações de conduta e pensamento, aderindo ao estilo da Fraternidade. Já a terceiridade, mostra esse conjunto de mudanças no perfil do jovem, possibilitando ao espectador fazer a leitura que lhe convém a cerca do novo estereótipo que surge nas telas.


A cena analisada mostra Wesley fugindo da aparente representação do mal, figurado por Thomas Kretschmann, quando surge Fox num carro ágil para salvar o garoto. Com uma manobra Wes é colocado dentro do carro enquanto o perseguidor está em um caminhão atirando contra os dois. Angelina Jolie, fica com as pernas fixas dentro do carro e o restante do seu corpo está para fora, para poder atirar no perseguidor. Nesta cena, é possível admitir que o carro assume a primeiridade, enquanto a secundidade é a alta dose de velocidade e a terceiridade é toda a perseguição que gera ansiedade pelo desfecho.


Um dos tiros que saem do perseguidor contra o carro remete à trilogia Matrix, no mecanismo clássico usado no filme, ao fazer um big close na bala de revolver, fazendo uso do delay (que retarda a sua velocidade e mostra com precisão o trajeto realizado). Mas, em “O procurado”, a trajetória da bala é curva. Neste caso MOSCARIELLO (1985, p. 17) defende que “a câmera pode igualmente ligar factos pertencentes a diferentes dimensões temporais [...] mas que se refere à um acontecimento ocorrido no passado e que se liga ao primeiro através de uma recordação neutra invocada através de um objeto de dupla referência espacio-temporal”. Além disso, dentro da temática de diferentes dimensões de contexto, o início da fuga, mostra Wes correndo de modo semelhante ao Homem Aranha, no momento de usar sua identidade de super-herói, revelando mais uma referência à outra obra do cinema.

Assista ao trailer:
http://www.youtube.com/watch?v=_79RP5I0F_U


texto: Georgia Pereira


referências bibliográficas:

MOSCARIELLO, Ângelo, Como ver um filme, Editorial Presença, Lisboa 1985
SANTAELLA, Lucia, Semiótica Aplicada, São Paulo, Pioneira Thomson Learning, 2007.

Um comentário:

Dirce disse...

Georgia
Boa escolha do filme e da bibliografia para análise. Ótimas comparações com outros filmes que demonstram como referências existentes no imaginário da sociedade ou criadas pela indústria do entretenimento podem ser encontradas e analisadas pela semiótica.
Dirce