quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Logomarcas e símbolos, a semiótica no cotidiano...


Gabriela Rebouças Milani Cecci

Desde que nascemos estamos habituados a reconhecer figuras, desenhos, formas geométricas etc. No entanto, as logomarcas comerciais ficam gravadas em nossas memórias e não importa quantos anos passem, somos capazes de reconhecê-las. Elas estão ligadas a semiótica por meio da reprodução simbólica (ou símbolo), que tem o intuito de representar uma instituição, como cita Adrian Frutiger: “Atualmente todos somos incluídos na economia moderna como consumidores. O espaço em que vivemos está repleto de bens de consumo, que se tornaram indispensáveis para a nossa existência. De certo modo, nosso dia só começa depois de passarmos os olhos pela marca familiar que vem impressa na embalagem do café. Todos os nossos caminhos estão marcados por símbolos, desde o primeiro sinal matinal até a última qualidade que vemos antes de dormir, gravadas do despertador.”




Um exemplo é a logomarca da Apple, que era famosa por seus computadores Macintosh mas que tornou-se muito mais conhecida pela febre do Ipod e mais recentemente do Iphone. Porém, essa marca não possui tal nome à toa. Ela foi criada primeiramente por seus donos, Steve Jobs e Robert Wayne a partir da idéia que remetia a conhecida maçã que levou Isaac Newton a teoria da gravidade, simbolizando a inspiração. A partir daí foi criada a primeira logomarca, como se vê ao lado, ilustrando Newton embaixo da macieira com apenas uma maçã sendo iluminada. Contudo, essa imagem nunca seria facilmente memorizada pelas pessoas pois demonstra algo antigo e sem cores. Assim Steve Jobs e Stephen Wosniak, outro dono da companhia, decidiram criar uma maçã mordida, como se com ela pudéssemos adquirir conhecimento e sabedoria dando até hoje a Apple um símbolo diferente e colorido, que marca a empresa e tornando-a mais acessível ao pensamento de seus clientes.
Outro símbolo que se tornou um destaque foi o da rede Carrefour. Não importa o país que você esteja, ele sempre será o mesmo, sendo como a Apple um símbolo universal. A marca original que identifica o Carrefour até os dias atuais foi criada em 1966, por Jacques Daniel. O curioso é que muitas vezes demoramos a perceber que o desenho não se trata de um bonequinho ou uma flecha, mas sim de um “C” branco sobreposto a um losango azul e vermelho, que homenageiam as cores da bandeira francesa.


No entanto existem marcas que por sua tamanha importância e influência no mundo acabaram se tornando ícones, que segundo o Dicionário de Semiótica de A. Greimas significa “um signo definido por sua relação de semelhança com a realidade do mundo exterior”. É o caso da Coca-Cola, McDonald’s, BMW, Adidas, Nike e muitas outras. Aldemira Assis Drago, especialista em Marketing defende que “os logos, como símbolo visual, conferem visibilidade e legibilidade às marcas e ajudam afixar o nome e a imagem que o compõem [...] porque a força do nome repousa no seu significado na mente do consumidor. E como os logos se constituem em imagem fixa da marca, nesse caso, eles acabam indo para o segundo lugar”.
Devido a sua tamanha abrangência, a semiótica talvez seja uma das mais importantes ciências estudadas, pois se aplica ao nosso convívio, sociedade e meios de comunicação de forma direta, interferindo não só no que representa, mas em toda sua significação.


Referências:

DEELY, John. Semiótica básica. São Paulo: Ática, 1990.
DRAGO, Aldemira Assis. Marca: identidade e significado emocional do produto. 2004. www.nead.unama.br/site/bibdigital/pdf/artigos_revistas/258.pdf

EPSTEIN, Isaac. O signo. 7. ed. São Paulo: Ática, 2002.
FRUTIGER, Adrian. Sinais e símbolos: desenho, projeto e significado. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
GREIMAS, A. J. ; COURTÉS, J. Dicionário de Semiótica. São Paulo: Cultrix, _.
SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007.
_____________. Teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. São Paulo: Pioneira, 2000.
Imagens disponíveis em: Google Imagens – Apple, Carrefour.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Signos, índices e alguns fantasmas!

Olá assíduos leitores deste aclamado blog. O ano letivo está chegando ao fim, assim como minha paciência. Isso mesmo! Estou farto de escrever toneladas de palavras da maneira mais erudita e intelectual de que sou capaz (e sinceramente não sou tããão capaz nisso). Vocês sabem, produzir artigos e mais artigos cansam um pouco nossa cabeça. Tem hora que as palavras já nos faltam e parece que mais nada do que escrevemos faz algum sentido. Por estas e outras razões, decidi escrever meu texto na linguagem mais coloquial possível (relaxa, não haverá palavrões nem termos de baixo calão). Até porque este blog trata de “códigos e sistemas de comunicação” não é verdade?! Então, não façamos da comunicação algo penoso e de difícil compreensão. Introduzindo isso, vamos lá.

Meu objeto de análise será um clipe do qual gosto muito. É da banda canadense Nickeback e a música chama-se Someday. Confesso que não sou muito fã do grupo, mas o clipe é realmente bom (“qualé”, não posso emitir minha opinião? Dirce, não tire minha nota!). Continuando... a canção foi lançada em 2003 e é incorporada ao álbum The Long Road. Antes de prosseguir na leitura (isso se você já não desisitiu) acesse o link abaixo para assistir o vídeo:

http://www.youtube.com/watch?v=3c9RmtC-8mI

Pronto? Assistiu mesmo? Gostou? Não importa, pois vou continuar falando do clipe até o fim do texto. Primeiro quero falar que não vou fazer uma análise semiótica da música, mas sim da narrativa do vídeo. Pois bem, como já fora muito citado neste blog autores como Santaella, Eco e Barthes, não pretendo cair em repetição. No entanto, colocarei aqui, de maneira resumida e indireta, algumas idéias básicas destes ilustres autores referentes à semiótica e a semiologia.

Conceitua-se como Semiótica a ciência que estuda as formas de linguagem nas suas mais variadas formas de aparição. Se por um lado a Lingüística tem como principal objeto de estudo as linguagens orais e escritas, a Semiótica, mais abrangente, procura compreender o funcionamento de toda forma possível de linguagem, inclusive as não-verbais, como as imagens, cores, sons, músicas, entre outros exemplos. A complexidade humana situa-se na capacidade cognitiva de processar informações por meio de determinadas linguagens. Sendo assim, a competência comunicativa de poder significar as coisas e os fenômenos e de poder transmiti-los em conteúdos apreendidos é o fator que nos diferencia do restante dos animais.

Uma peça fundamental para a semiótica é o conceito de signo. Entende-se por signo uma coisa que se coloca no lugar de outra coisa com o objetivo de representá-la. Para esclarecer, o signo não é o objeto, mas sim a REPRESENTAÇÃO deste objeto. Sendo assim, o signo só possui valor de uso ao se estabelecer na mente de alguém, o que logo desencadeia em um processo chamado de interpretante. O interprete (aquele que interpreta) ao contatar a representação do objeto, haverá de produzir em sua mente não o objeto direto, mas sim seu signo. Não é preciso, por exemplo, que uma maçã esteja no alcance da visão de dois indivíduos para que eles possam formar idéias sobre uma maçã por meio de signos. Difícil? Ninguém disse que ia ser fácil, parceiro!

O clipe de Someday está repleto de signos de toda a sorte. Aliás, o próprio clipe é um signo. Toda sua narrativa é construída a base de signos que nos chegam aos olhos e que nos permite processá-los em nossa mente, tornando-os quase “reais”. Os signos vão constantemente sobrepondo-se uns aos outros na telinha do YouTube à medida que a narrativa vai sendo traçada. A mulher chorando, o homem confuso e desesperado, o leite derramado, o trânsito, os carros etc., todos estes elementos, ops, signos constroem um signo total (o clipe narrativo) que traz uma mensagem maior que todos os outros signos menores e que dá sentido a toda narrativa: a morte de ambos os protagonistas.

Suponhamos que esta seja a primeira vez que você viu o clipe. A mulher fica em prantos quando vê algo no jornal. Oh, mas o que será? Mas daí ela passa a ignorar completamente o homem ao seu lado. Bom, eles podem ter brigado, ela pode tê-lo visto no jornal com outra mulher, enfim, as opções são inesgotáveis. Mas aos 00:29 ela pega uma camiseta do cara e começa e guarda na mala. Eles não estariam brigados?! Por que ela iria querer uma camiseta do homem que ela não consegue nem mais olhar nos olhos? Estranho... Bom, gente, não vou narrar todo o clipe aqui por motivos óbvios. O que quero dizer é que só conseguiremos captar o sentido e a mensagem da narrativa quando esta chega ao fim. É então que podemos processar os signos e perceber a coerência de toda a história.

Ah, não venha me dizer que você já tinha sacado o fim do clipe logo no começo ou no meio. Bom, talvez até tenha, pois além de signos puros o vídeo também traz alguns índices bem sutis de que o cara é um fantasma! Aos 00:52 o rapaz pisa no leite e por algum fenômeno sobrenatural, literalmente, ele não deixa pegadas brancas no chão! Belo índice de que ele pode ser um ser incorpóreo, noá?! No 01:31, enquanto o carinha corre alucinadamente atrás do carro da garota, ela olha no retrovisor e não vê ninguém perseguindo-a. Vai que ele é um vampiro e não tem reflexo! Aí estão algumas pequenas pistas, ops, índices que podem ajudar a desvendar o mistério assombrado do clipe.

Bom meus amigos(as), por hoje é só. Gostaria de parabenizar todos aqueles que conseguiram, devido à persistência ou à falta de coisa melhor pra fazer, chegar até o fim deste texto repleto de piadinhas infames (bem ao meu gosto) e cheio de parênteses (nada a acrescentar). Até a próxima.

Luis Antonio Palma Hangai

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

“Na onda do ecologicamente correto”...



Nara Dyeynne Marques Chiquetti

Políticas ecologicamente corretas estão em alta. Preservação ambiental, reciclagem de produtos, entre outras estão todos os dias na mídia – em matérias e campanhas. Ganham pontos as empresas que se mostram “ecologicamente corretas”. Geralmente a parte que fazem é a exigida por lei, o mínimo que deveriam, mas são vistas com bons olhos pela sociedade e também não perdem a oportunidade de fazer marketing em cima disso.
Com base na semiótica e em autores de marketing e propaganda, vamos olhar para a propaganda de forma “diferente” (tanto em seus aspectos verbais quanto não-verbais). Esta é a análise de uma campanha institucional. Trata-se da nova campanha da Chevrolet, “Reinventamos Caminhos”, que tem por objetivo a conscientização para o consumo responsável. Portanto, a finalidade não é o destaque de um de seus produtos, mas da empresa “Chevrolet”, que quer mostrar que faz sua parte para a preservação ambiental. A propaganda analisada foi veiculada em uma revista semanal e de circulação nacional.
O título do texto é: “Quem tem o poder de ORGANIZAR e de EVOLUIR tem o poder de MUDAR.” Para simbolizar a parte do trabalho da empresa para a preservação ambiental, ela se põe como uma formiguinha em relação à natureza. Seu tamanho é pequeno, o trabalho é de pouquinho em pouquinho, mas unidas, as formigas fazem um grande esforço todos os dias para construção e manutenção do formigueiro. É isso que a empresa quer transmitir, a consciência de que sua iniciativa é pequena, mas se seus clientes e outras empresas aderirem à campanha, o “trabalho de formiguinha” dará resultado. Porque o sujeito a quem se refere o “poder” é o homem – ele se organiza, evolui a cada dia e pode também mudar certos “hábitos” em prol do planeta (faz parte da campanha o consumo consciente, a reciclagem de materiais e até a sugestão na economia com transporte por meio de caronas).
Na imagem vê-se o quão pequena é a formiga pela comparação com os outros elementos que compõe o quadro, como as raízes da árvore ou até mesmo em relação às flores. A imagem é de campo aberto, mostra um vale entre montanhas, tudo isso para destacar que são os serezinhos que influenciam em tudo, até à mais alta montanha. A formiga simboliza as pessoas que trabalham pela preservação da natureza. Além disso, todas caminham para o mesmo lado, para o mesmo objetivo, representando a união. O pôr do sol dá à imagem o tom dourado da logomarca Chevrolet (o símbolo da empresa).
Os carros que as formiguinhas carregam representam os produtos flex da Chevrolet, que poluiriam menos, por isso seriam mais ecológicos – uma ajuda à preservação ambiental. Essa campanha não está só preocupada com a natureza, mas principalmente em aliar esse diferencial à marca (“empresa ecologicamente correta”). Pois a marca representa a empresa e é referência de seus produtos. Uma campanha de qualidade une boa imagem da empresa com qualidade de produtos – é o que pretende esta campanha.


Bibliografia consultada:

CORRÊA, Roberto. Contato Imediato com Planejamento de propaganda. 2 ed. Rio de Janeiro: Global, 1987

PINHO, J. B. O poder das marcas. São Paulo: Summus, 1996.

SAMPAIO, Rafael. Propaganda de A a Z. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Campus, 2003.

SANT’ANNA, Armando. Propaganda: teoria, técnica e prática. 7 ed. rev. e atual. de 1998. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2007.

VESTERGAARD, Torben; SCHRODER, Kim. A linguagem da propaganda. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004

Imagem disponível em: http://www.reinventamoscaminhos.com.br/campanha.html. Acesso: 26/11/08. 20:54

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Quem acha que criança é boba não conhece Mafalda


Quem acha que criança só sabe brincar não conhece Mafalda, a personagem das tirinhas de Joquim Salvador Lavado, o Quino. A trajetória das histórias da pequena menina vai de 1964 a 1973. Sua primeira aparição foi no suplemento de humor da revista Leoplán. Em 29 de setembro de 64, o semanário “Primeira Plana”, de Buenos Aires, passa a publicar os quadrinhos regularmente. Mafalda trata dos direitos humanos por meio da sátira. Quem a lê achando que vai encontrar um humor pueril acaba por ser surpreendido e muitas vezes trapaceado pelo humor ácido e crítico. Para entender as tirinhas é preciso ter conhecimento do que acontece no mundo.
Para uma análise semiótica de Mafalda, vai-se usar a matriz da significação de Algidar Julien Greimas, que se diferencia da base teórica de Pierce e da semiologia, por dar ênfase “não mais nas relações entre os signos, mas no processo se significação capaz de gerá-los” (Pietroforte, 2004, p.7). Para entender o objeto de estudo, portanto, é preciso usar o percurso gerativo de sentido, que se concretiza no discurso. O principal ponto desta teoria é o semi-simbolismo, uma relação arbitrária (porque é fixada em determinado contexto), mas que também tem uma face que é susceptível a mudanças, criada da comunicação entre os dois planos de linguagem – que no caso das histórias em quadrinhos é o verbal e não-verbal.
Pietroforte apud Barthes (2006, p.1) diz da relação entre verbal (os balões da fala) e não verbal (os desenhos): “há o modo de ancoragem, em que o verbal reduz a polissemia da imagem, explicando-a; e há o modo de etapa em que o verbal e a imagem são fragmentos de um sintagma mais geral”. A segunda opção é a que acontece na tirinha, pois falas e desenho se complementam na geração de sentido de quem a lê.
Entra-se em um nível mais intenso de análise quando se pensa no semi-simbolismo. O globo terrestre do último quadrinho representa a terra como um todo. Não é apenas um objeto que não está bem, mas é o conjunto de relações sociais entre os indivíduos que está desvirtuado, ou seja, há uma relação entre mundo doente vs saudável, chamada de coerência semântica. Se esta existe é possível estabelecer uma coerência plástica: o último quadrinho refaz o sentido dos dois primeiros, pois de uma conversa banal entre duas crianças, agora se tem uma discussão sobre como anda o ambiente tanto social quanto físico em as pessoas vivem.
O semi-simbolismo e a sátira unem juntos para despertar no leitor uma inquietação sobre a vida. O mais interessante é que a própria Mafalda é um semi-símbolo – que representa toda uma sociedade. Além disso, ela desperta a relação maturidade vs pueridade, pois parece uma criança, e chega até a ser inocente em algumas tirinhas, mas tem falas de quem entende a vida e já passou por várias experiências.

Referências Bibliográficas

Pietroforte, Antonio Vicente. Semiótica visual - os percursos do olhar. São Paulo: Contexto, 2004.

Pietroforte, Antonio Vicente. O sincretismo entre a semiótica verbal e não verbal.Revista Intercâmbio, colume XV. São Paul: LAEL/ PUC - SP, 2006.

Pauline Frank de Almeida

Você já parou para analisar um rótulo? Se a resposta for “não”, talvez seja a hora de pensar outra vez. Uma imagem, uma combinação de cores, o simples desenho de uma letra... tudo é comunicação. E, acredite, mesmo que você nunca tenha se debruçado sobre uma logomarca, os sentidos que ela tenta passar já foram absorvidos – e você nem percebeu! Isso porque, como explica Santaella (2004, p.10), “[..] imagens, gráficos, sinais, setas, números, luzes [...], objetos, sons musicais, gestos, expressões, cheiro, tato [...]” são formas de linguagem e, por isso, produzem sentidos.
A Semiótica é a ciência voltada para os estudos da linguagem – entendam-se aí todas as formas possíveis. Sim, pois sempre que estamos representando alguma coisa, colocando algo no lugar de algo, estamos falando de signos – e falar de signos é falar de Semiótica. E o que tudo isso tem a ver com o Guaraná Antarctica? Muito mais do que você imagina...
Tomemos, por exemplo, o formato das letras da marca. De acordo com Alves (1982, p.291), a escrita “[...] apresenta-se como um sistema de signos que traduz para um nível visual (representação gráfica) o desempenho oral do código verbal. [...] É a representação de uma representação. Signo de um signo”. Então se o desenho de uma letra é um signo, isso quer dizer que ele, por si só, já é capaz de comunicar. E não pense que isso passa despercebido, não. A tipografia, ciência que estuda os atributos visuais da linguagem escrita, tem exatamente como função transmitir a mensagem “[...] do modo mais eficaz possível, gerando no leitor destinatário significações pretendidas pelo destinador”. (NIEMEYER, 2003, p.12).
Os tipos utilizados para escrever a palavra Guaraná são do grupo Manuscrito, ou seja, eles imitam a escrita cursiva. Quando vemos esse tipo de letra, a idéia que temos (mesmo que inconsciente) é de personificação – até parece que foi escrito só para gente, ali, à mão. Além disso, o formato mais arredondado, o equilíbrio entre as curvas e a leveza dos traços remete ao feminino. O Guaraná é quase uma moça delicada, pisando na ponta dos pés, toda graça, deslizando de uma ponta à outra da garrafa.
O ANTARCTICA, por sua vez, com seus tipos sem serifa da família Etrusca, faz um contraponto ao movimento do manuscrito. As letras em caixa alta conferem destaque e o contraste entre as hastes, credibilidade. Apesar de serem mais simples e sérios, os tipos mantêm a elegância, sustentando a feminilidade. O mesmo se estende ao slogan O ORIGINAL DO BRASIL, que conserva o desenho de cima e reitera a questão da simplicidade, mas com impacto - repare que é a única frase vazada em branco na cor vermelha. E cor faz diferença? Se faz!
Segundo Farina (2006, p.13), a cor, enquanto comunicação visual “[...] exerce uma ação tríplice: a de impressionar, a de expressar e a de construir. A cor é vista: impressiona a retina. E sentida: provoca uma emoção. E construtiva, pois, tendo significado próprio, tem valor de símbolo e capacidade, portanto, de construir uma linguagem própria que comunique uma idéia”. Assim como os tipos, as cores também necessitam de ferramentas e registros de transmissão, afinal, elas não são repassadas hereditariamente, mas por meio de regras convencionadas e arbitrariamente definidas. Então, encarando a estruturação comunicativa cromática como predominantemente invariável, analisemos as cores do Guaraná.
A cor vermelha, do tipo quente, confere proximidade, calor, estímulo, excitação. Remete à noções de alegria, energia, dinamismo, movimento. E, frequentemente, é associada aos lábios, à mulher, ao doce. Já o branco é mais “comportado” e por isso, de grande contraste com o vermelho. Ele desperta simplicidade, limpeza, sensação de bem estar, de estabilidade. O verde, por fim, sugere “umidade, calma, frescor, esperança, amizade e equilíbrio. Além de todas as conexões com a Ecologia e com a natureza”. (FARINA, 2006, p.101). E essa combinação toda vai dar o quê?
Charme e sensualidade. As letras essencialmente femininas se casam com o vermelho e balanceiam-se com o branco. O verde, enquanto cor predominante da embalagem do refrigerante sustenta a logomarca como se fosse a folhagem que circula a flor, a fruta, ou, no caso, o guaraná.
O que temos, então? Um marca extremamente feminina, de movimento, balanço, doçura, charme, leveza e frescor. E, tenha certeza, você já sabia disso antes mesmo de ler esse texto – até porque é exatamente essa função da publicidade: atrair, provocar sentidos, seduzir e, assim, vender.


Referências Bibliográficas

ALVES, Leange Severo. Estudo do código visual originado do código verbal na linguagem jornalística. Revista Semina, n.12, cap. 3, p. 291-296, 1982.

FARINA, Modesto. Psicodinâmica das cores em comunicação – 5ª. ed. São Paulo: Edgard Blucher, 2006.

NIEMEYER, Lucy. Tipografia: uma apresentação – 3ª. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2003.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2004.

Imagens
Google Imagens



terça-feira, 18 de novembro de 2008

Chinelos e semiótica



O anúncio publicitário é das Hawaianas Kids e foi publicado em uma revista de circulação semanal.

Nós vamos analisar essa propaganda em seus aspectos verbais e não-verbais. Para isso, vamos usar a Semiótica, que segundo Santaella estuda aquilo que vai além das palavras, “Portanto, quando dizemos linguagem, queremos nos referir a uma gama incrivelmente intrincada de foras sociais de comunicação e de significação que inclui a linguagem verbal articulada, mas absorve também, inclusive, a linguagem dos surdos-mudos, o sistema codificado da moda, da culinária e tantos outros”.

A primeira característica que chama nossa atenção nesse anúncio é a coloração. A imagem é colorida e usa principalmente as cores azul, preto e roxo que costumam remeter a escuridão, incertezas e medo. A imagem de fundo é noturna, de um local pouco habitado e perto de um cemitério. Essa paisagem remete a desenhos infantis e filmes que abordam lugares mal assombrados que causam medo nas crianças.

É quase unânime entre as crianças o medo do escuro, por exemplo, ou de dormirem sozinhas. Nesse caso, outra figura conhecida delas é o mostro que poderia morar no armário ou em baixo da cama.

Outra característica importante na imagem é o fato dela estar colocada em uma moldura de madeira com cortinas. Alem disso, a lua e as palavras estão penduradas por uma linha, o que nos faz lembrar de teatros infantis com fantoches.

De acordo com a Semiótica, um signo é a representação de algo. De acordo com Pierce, essa representação precisa unir três elementos: índice, ícone e símbolo.
O ícone é uma representação simbólica do objeto ou apenas de uma parte dele, já o índice é aquilo que o objeto pode representar. Por sua vez, os símbolos são representações convencionadas.

Nessa propaganda, podemos classificar todo o desenho da paisagem como sendo um ícone porque se trata de uma representação simbólica, que nos remete a imagem real.
Também não podemos esquecer a parte verbal do anúncio. São duas perguntas “Se existe um monstro em baixo da cama do seu filho? Depende de onde ele guarda as Hawaianas?”. Essas frases ajudam a completar o sentido do informe publicitário, chamando atenção para as Hawaianas que têm o desenho de um monstro. As Hawaianas, nesse caso, são um ícone, já que representam um chinelo infantil. Entretanto, o monstro estampado no chinelo também pode ser considerado um símbolo, porque é uma representação convencionada de algo que assusta as crianças e que assume essa forma e essas cores.

Beatriz Fontana Assumpção


Referência Bibliográfica:

SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. São Paulo. Brasiliense, 1983

http://www.webquest-letras.com.br/propaganda_para_quem.htm

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Ciência dos Signos?




Por Bruna Komarchesqui

Escrevo esse texto para você, caro leitor, que se deliciou com todas as análises aqui postadas, mas que ainda tem uma duvidazinha chata rondando os pensamentos: “Tá, mas o que exatamente é semiótica?”. Segundo Santaella (2005, p.7): “O nome Semiótica vem da raiz grega semeion, que quer dizer signo. Semiótica é a ciência dos signos”. Aí você fica na dúvida: “Ué, signos? Aqueles do zodíaco? Então, a astrologia também é estudada nas universidades?”. E essa confusão é mais comum do que parece. Os signos estudados pela semiótica nada têm a ver com astrologia (se bem que uma relação entre eles não seria de tudo absurda). De maneira simplificada, no caso da semiótica, “[...] signo é algo que está por outra coisa”. (EPSTEIN, 1990, p.17). Ou ainda: signo é algo no lugar de algo.

Resolvida essa questão, surge uma outra: “Por que alguns autores falam em Semiologia e outros em Semiótica?”. Santaella (2005) explica que a diferença entre essas duas “ciências” não fica apenas no nível da terminologia. Deixando um pouco de lado os demais pontos de discordância e de concordância entre elas, vamos nos ater na diferença de abordagem que cada uma faz da questão do signo.

Umberto Eco, em seu “Tratado Geral de Semiótica” (2003), traz um panorama de como os signos são tratados pelas duas linhas, que têm como representantes/pioneiros Ferdinand Saussure (Semiologia) e Charles S. Peirce (Semiótica). A Semiologia saussureana seria, então, “[...] uma ciência que estuda os signos no quadro da vida social; ela poderia fazer parte da psicologia social, e, em conseqüência, da psicologia geral”. (ECO, 2003, p.9). Saussure define o signo como uma “entidade de dupla face”. Para ele, o signo é composto de “significante” (imagem acústica, mediador material do significado, elemento do signo que impressiona nossos sentidos) e “significado” (interpretação de um signo). Ou seja, a soma dos dois forma o signo. “Expressão e conteúdo, significante e significado são os correlatos da função sígnica na semiologia de raiz saussureana. O signo significa, isto é, aponta para fora de si (tomando-se aqui o signo como equivalente à sua expressão ou significante, para opô-lo ao conteúdo ou significado).” (EPSTEIN, 1990, p.21).

Já a semiótica peirceana entende o signo como “[...] qualquer coisa que está para alguém no lugar de algo sob determinados aspectos ou capacidades. [...] Um signo pode estar para algo aos olhos de alguém somente porque essa relação (estar-para) é mediada por um interpretante”. (ECO, 2003, p.10). Para Peirce, a relação do signo é sempre uma tríade (nunca uma dupla, como defendia Saussure). Um exemplo seria: um signo, seu objeto e o seu interpretante. Epstein (1990, p.48) explica que Peirce classifica os signos de acordo com sua função sígnica, dividindo-os em três tricotomias: a relação signo-meio, signo-objeto e signo-interpretante. Na relação signo-objeto, o signo pode ser um ícone (objeto possui certos traços em comum com o objeto referido, exemplo, uma fotografia), um índice (relação entre signo e objeto é direta, por exemplo, fumaça indicando fogo) ou um símbolo (relação signo-objeto independe de semelhança ou relações de causa entre eles, mas é definida por uma lei convencionada).

Para Eco (2003, p.11), uma das diferenças entre Semiologia e Semiótica é que a definição peirceana “[...] não requer como condição necessária para a definição do signo, que este seja emitido INTENCIONALMENTE e produzido ARTIFICIALMENTE”. Além disso, a tríade peirceana pode se aplicar a fenômenos que não tenham emitente humano, mas tenham destinatário humano, como no caso dos fenômenos meteorológicos, ou outros tipos de índice. Resumidamente, as semióticas (o termo pode ser usado tanto para designar Semiótica ou Semiologia) de Saussure e Peirce são “[...] teorias da relação ‘semiósica’ entre símbolo e referência (ou significado) e entre o signo e a série de seus interpretantes. Os objetos não são levados em consideração por Saussure e, no quadro teorético de Peirce, só entram quando se discutem tipos particulares de signos, como os índices e os ícones”. (ECO, 2003, p.51).

Entendidas algumas diferenças e semelhanças, voltemos ao início: como seria possível uma relação entre semiótica e astrologia? Roland Barthes, em seu livro “Mitologias”, faz uma análise da astrologia que, para ele, é um “sistema mítico”. “O mito é uma fala [...], um sistema de comunicação, é uma mensagem.” (BARTHES, 1993, p.131). Nesse sentido, Barthes considera a semiologia uma “ciência das formas” que estuda as significações independentemente dos conteúdos. Na perspectiva semiológica, então, os signos do zodíaco podem ser estudados enquanto signos com significante e significado. “O significado é o conceito, o significante é a imagem acústica (de ordem psíquica), e a relação entre o conceito e a imagem é o signo (a palavra, por exemplo)”. (BARTHES, 1993, p.135). Por meio da palavra escrita, os signos do zodíaco exercem sua significação. Muitas outras relações com a semiótica seriam possíveis, como um estudo dos símbolos que representam cada signo do zodíaco, de como a posição dos planetas interfere no “destino” das pessoas, etc.

Mas Barthes se concentra num ponto específico. Para ele, a astrologia (ele analisa o caso francês) não traz aberturas para o sonho, mas é mero espelho da realidade instituída. Ou seja, os astros (o horóscopo) nunca estimulam uma superação da ordem, mas respeitam os “estatutos sociais e os horários patronais”. Ao invés de predizer o futuro, os astros, na maioria das vezes, descrevem problemas e situações da vida cotidiana. A utilidade da astrologia, para Barthes, seria a mesma da Literatura: objetivar o real, sem chegar a desmistificá-lo, ou, em outras palavras, “exorcizar o real, nomeando-o”. (BARTHES, 1993, p.109).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARTHES, Roland. Mitologias. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1993.

ECO, Umberto. Tratado geral de semiótica. São Paulo: Perspectiva, 2003.

EPSTEIN, Isaac. O signo. São Paulo: Ática, 1990.

SANTAELLA, Lúcia. O que é semiótica. São Paulo: Brasiliense, 2005.

IMAGEM:
http://ela2.wordpress.com/2008/05/09/e-os-astros-contam/