quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Dicionário literário sobre amor



FRAGMENTOS DE UM DISCURSO AMOROSO. Divagações e momentos de reflexão sobre o amor, que gradativamente compõem o que é o discurso amoroso – um discurso que, como o próprio autor afirma, esquece do outro.

(Barthes) 1. “A necessidade deste livro se apóia na seguinte consideração: o discurso amoroso é hoje em dia de uma extrema solidão. Este discurso talvez seja falado por milhares de pessoas (quem sabe?), mas não é sustentado por ninguém; foi completamente abandonado pelas linguagens circunvizinhas: ou ignorado, depreciado, ironizado por elas, excluído não somente do poder, mas também de seus mecanismos (ciências, conhecimentos, artes). Quando um discurso é dessa maneira levado por sua própria força à deriva do inatual, banido de todo espírito gregário, só lhe resta ser o lugar, por mais exíguo que seja, de uma afirmação. Essa afirmação é em suma o assunto do livro que começa.” (Barthes, 1997: 12)

2. O livro, construído de maneira literária, não se propõe a ser didático como outros títulos do autor. É como se Barthes estivesse se expressando em um diário. No entanto, embora seja de cunho pessoal, o livro se torna universal nas palavras que descreve, como “Eu-te-amo” e “Lembrança”. Notando essa universalidade e transportando para a Semiologia, a linguagem amorosa parece um Sistema em que o Sintagma está subentendido em qualquer parte do mundo (a linguagem amorosa como Sistema é um conjunto de gestos, entonações e comportamentos típicos dos apaixonados, enquanto o Sintagma seria a cumplicidade de um casal ou das pessoas ao redor ao notar a conduta dos apaixonados). Em ordem alfabética, o autor francês escolhe algumas das palavras mais presentes no cotidiano dos amantes e utiliza a literatura (Freud, Nietzsche, Goethe, Lacan...) e a metalinguagem para definir uma a uma, tal qual um dicionário.

(Closer) 2. A fala da personagem de Natalie Portman retrata exatamente o que Barthes dizia sobre “Eu-te-amo”: “Where is this love? I can't see it, I can't touch it. I can't feel it. I can hear it. I can hear some words, but I can't do anything with your easy words.” (Onde está esse amor? Eu não o vejo, eu não o toco. Eu não o sinto. Eu consigo ouvi-lo. Eu ouço algumas palavras, mas eu não posso fazer nada com suas palavras fáceis.) Para Barthes, “Eu-te-amo” seria, depois da confissão inicial, uma repetição, ou ainda, um aposto (“Fulano, eu-te-amo”). O termo não adquire valor nem mesmo quando contextualizado e compreendido (e podemos aplicar aqui a Semiologia, quando Barthes distingue a Fala e a Língua. A Língua seria um sistema consentido, posterior à Fala que é uma tentativa de comunicação). A frase só teria sentido no momento em que foi pronunciada, no seu dizer imediato.

(Eternal Sunshine of the Spotless Mind) 3. O filme é constituído de digressões do personagem de Jim Carrey, que são relatos do seu dia-a-dia com a ex-namorada Clementine (atuada por Kate Winslet). São exatamente estas memórias que correspondem ao que Barthes chama de “Lembrança”: detalhes corriqueiros do casal que estão ligados ao ser amado e que para que Joel esqueça a personagem Clementine, é necessário que ele se livre de todos os pertences, objetos e pensamentos que o conectavam a ela – sejam elas boas lembranças ou dolorosas. Joel, já apagado das lembranças de Clementine, seria um Signo sem Significado. “O signo é, pois, composto de um significante e um significado. O plano dos significantes constitui o plano de expressão e o dos significados o plano de conteúdo” (Barthes, 1979: 43).

Texto: Claudia Yamaki
A disposição do texto foi propositadamente semelhante à diagramação do livro “Fragmentos de um discurso amoroso”, sendo, portanto, original do autor.

Para compreender melhor:
Filmes:
Closer – Perto Demais
Título original: Closer
Tempo de Duração: 100 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2004
Direção: Mike Nichols

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças
Título original: Eternal Sunshine of the Spotless Mind
Tempo de Duração: 108 minutos
Ano de Lançamento (EUA): 2004
Direção: Michel Gondry

Referências:
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 1979.
BARTHES, Roland. Fragmentos de um discurso amoroso. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1997.

Imagem:
Google Imagens, editada no Adobe Photoshop CS3

2 comentários:

Dirce disse...

Cláudia
Parabéns pela construção do trabalho, escolha do tema, dos filmes ilustrativos e bibliografia.
Ótimo trabalho.
Dirce

baileahtabone disse...

titanium alloy at citricstone, pl. - TITNIA ANNE RCAKE
TITNIA ANNE RCAKE. The TITNIA ANNE RCAKE. The TITNIA ANNE RCAKE. The TITNIA ANNE RCAKE. THE titanium white dominus price TITNIA titanium cerakote ANNE RCAKE. The TITNIA where can i buy titanium trim ANNE RCAKE. The TITNIA titanium tent stakes ANNE RCAKE. The TITNIA ANNE RCAKE. titanium nitride coating The TITNIA ANNE RCAKE.